terça-feira, dezembro 15, 2009

AOS COLEGAS, IRMÃOS

por


Daniel L. Petersen


“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus
mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos.”
(1 João 5.3)


Desde muito, tenho orado a Deus para que as pessoas em meu trabalho conheçam ao meu Salvador. Como Cristão (Calvinista)[1] sei de minhas obrigações para com Cristo, mas mesmo assim, acho muito pouco (o que faço como servo), não que isso faça alguma diferença, pois quanto à “eleição e ao chamado” de cada um nada posso fazer a não ser orar ao meu Deus.


Perante os fatos, como pecador e estudante da Palavra, sei que meus exemplos (apesar de tentar buscar santidade em Cristo) não são “suficientes” para que conheçam a salvação no Senhor, mas antes, a Palavra de Deus que em Cristo, através do Espírito Santo transmite a mensagem, a iluminação e o conhecimento necessário à Salvação em Jesus, que como proposta, tentarei de forma prática, levar ao conhecimento dos colegas irmãos seu conteúdo, em breves estudos.


De antemão, é preciso que seja compreendido que “somente o Espírito Santo convence o homem do seu pecado através do Evangelho” e é exatamente por isso que este texto serve (apesar de conter em seu conteúdo, partes da Palavra de Deus) de estudo de princípios não exaustivos da Escritura. Existe muito que se ler sobre o assunto, mas a proposta deste é dar como que uma pequena introdução ao mesmo.


Como primeiro estudo, nada melhor do que demonstrar os “Mandamentos do Senhor” para que através deles, conheçam qual sua condição perante Deus, a condenação e insuficiência dos sistemas de pensamentos criadas por homens ao qual estão diretamente ligadas ao pecado e a própria ação de Satanás em suas vidas, das conseqüências das obras que quando distorcidas e longe da verdade, caminham para a eterna condenação.


Os Dez Mandamentos - Êxodo 20. 1 a 17


“Se me amais, guardareis os meus mandamentos.”
(João 14.15)

O contexto em que se encontrava o povo de Israel antes de serem libertos por Deus da escravidão nas terras do Egito como relata a Escritura é realidade para milhares de pessoas em nossos dias, longe do Senhor, todos atraem através do pecado a condenação justificada para sua vida. Ter o Senhor como seu Deus é algo que esta além de nossa própria vontade, isso porque o pecado, iniciado na queda de Adão, afastou-nos de Deus em todos os aspectos inclusive de nos voltarmos a Deus.



Já em nosso tempo, o Pós-Modernismo (Sistema Sociológico ao qual vivemos), tenta de todas as formas dar-nos a falsa impressão do que devemos ter como primícia em nossa e vida algo extremamente perigoso e neste contexto este sistema ensina dentre suas ramificações do pensar (filosófico, se assim pode-se dizer) que: “o seu prazer, felicidade e prosperidade está “sobre todas as coisas”, logo, você é o centro de tudo e tudo se resume no sentido do prazer e ter”. Este conceito do prazer é muito antigo, vem do Hedonismo[2] Grego onde se ensina que tudo não passa do presente (o aqui e agora) e com a morte a vida se acaba, por isso a bandeira levantada por esse conceito fundamenta-se na busca pelo “prazer e felicidade” - no hoje. Podemos então com uma simples reflexão, visualizar este mesmo conceito em muitas Igrejas em nossos dias e, é exatamente por isso que comecei este estudo com os Mandamentos do Senhor, pois pode mesmo sem um conhecimento aprofundado no Evangelho (que seria necessário para se ter um conceito de verdade absoluta), ser possível ao leitor refletir ao encontrar e compreender o quanto tais ensinamentos pós-modernos são destrutivos inclusive para os não-cristãos e, assim, servem os mandamentos, de reflexão e consciência da justa condenação perante nossa escravidão ao pecado.


É deveras fácil descobrir onde este conceito (hedonismo) se faz presente nas Igrejas, muitas prometem a felicidade, prosperidade e ainda ensina que devemos mesmo em nossa condição (como pecadores) exigir isso de Deus. Dizem: “Porque como seus “filhos” não podem sofrer ou ser infelizes”. Mas a busca do “sentir-se bem” não dá a Deus a sua devida Glória.


1 - Mas afinal, quem é esse Deus que exige, elege e salva seu povo?


A Confissão de Fé de Westminster nos ensina que: 



“Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um Espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros e paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro remunerador dos que o buscam e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado; de modo algum terá por inocente o culpado”, (De Deus e da Santíssima Trindade. Confissão de Fé de Westminster - Editora Cultura Cristã. 2003. pág. 26).


A palavra de Deus nos narra que após libertar o povo de Israel da escravidão do Faraó no Egito, Deus então no monte Sinai, entrega a Moisés o primeiro escrito da Bíblia, a sua Lei que conhecemos pelo nome de “Os Dez Mandamentos” (ou Decálogo), como segue:


1 - Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim.

2 - Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam, e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.



3 - Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão.
 
4 - Lembra-te do dia do descanso[3], para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho; mas o sétimo dia é o descanso do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso o Senhor abençoou o dia do descanso, e o santificou.



5 - Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.

6 - Não matarás.


7 - Não adulterarás.


8 - Não furtarás.



 9 - Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.


 10 - Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.


Estes 10 Mandamentos do Senhor Deus são Leis morais, é importante dizer também que Deus não esta num sentido “acima deles”[4], mas, Ele esta  totalmente e diretamente interligado aos seus mandamentos, uma vez que os mesmos são e fazem parte daquilo que Deus é, ou seja, refletem tanto o caráter, quanto o que é exigido para o homem relacionar-se com o criador.


J. I. Packer[5] em seu livro “Teologia Concisa” comenta:



A Lei Moral de Deus tem três propósitos:




1º - Sua primeira função é ser um espelho que reflete para nós tanto a justiça perfeita de Deus como nossa própria pecaminosidade e deficiências;2º - Sua segunda função é restringir o mal. Embora não possa mudar o coração, a lei pode, em certa medida, inibir a ilegalidade por suas ameaças de julgamento; 3º - Sua terceira função é guiar os regenerados às boas obras que Deus planejou para eles.


Deus então através de sua Lei, mostra-nos que ao homem é impossível escapar da justa condenação do pecado, isso porque é impossível ao homem deixar de pecar.


Romanos 3.23 “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus,”


A humanidade pecadora esta debaixo da ira de Deus e necessita de um Salvador, um Rei, e Cristo Jesus (que durante toda Escritura se faz presente de Gêneses a Apocalipse) por amor, propósito e vontade, tem seu Ministério em nosso meio, trazendo a Salvação na Mensagem do Evangelho (Boas Novas) sendo o único capaz de cumprir toda a Lei de Deus, ele é o próprio Deus e somente ele pode remover a nossa culpa. Deus envia seu filho ao mundo, que veio para reinar e justificar os pecadores por sua obra perfeita, dando-lhes vida nova, pois o peso da lei que antes julgava o pecador, agora justifica o mesmo em seu Filho Cristo Jesus.


João 14.6 “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”.


Jesus em seu determinado tempo chama seus servos para o servirem, no entanto, a exigência para entrar em seu reino é que sejamos absolutamente perfeitos e sem pecados.


Dessa forma, hoje sem Cristo estaríamos excluídos dele, por ser impossível sermos perfeitos e sem pecado; assim, todos nós enfrentamos o juízo final e o afastamento de Deus.


Isso se faz necessário para recebermos Jesus Cristo em nossa vida como nosso senhor e salvador, pois ele é o único que viveu uma vida perfeita e que, portanto, se tornou o substituto para nossos pecados - o meu e o seu.


Jesus ressuscitou dos mortos, provando que é Deus; e mais: sua obra expiatória é para nos salvar, pois já pagou por nossos pecados na cruz e quer nos dar a vida eterna, mas, antes, devemos, individualmente, recebê-lo, é isso que significa crer em Jesus. Deus quer que nos encontremos com ele; quer tanto, que ele deu o seu único filho para que morresse por nós. 


Quer felicidade? Gostaria acabar com sua dor? Deseja prosperar em sua vida?


Esqueça disso, Cristo é a “suficiência da vida”. Quer maior felicidade do que ter um salvador? Cristo nos ensina como ter confiança suficiente nEle, pois em todos os momentos (difíceis) nos diz: “vinde a mim”. Isto é suficiente. 



Mateus 11:28-30 "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve."
 
Oro a Deus para que você re-avalie sua vida, pois há somente duas eternas realidades, a primeira é de viver como servo de Cristo em seu Reino por toda a eternidade e a segunda é de viver eternamente onde a Bíblia descreve como “Lago de Fogo”, ou seja, o “Inferno”.



[1] O termo Calvinismo é dado ao sistema teológico da Reforma protestante, exposto e defendido por João Calvino (1509-1564).
[2] Hedonismo (do grego "hedoné" = "prazer"), acreditavam que o bem se encontra no prazer.
[3] Sabbath: na dispensação do novo pacto, a observância do sabbath semanal foi mudada por Jesus Cristo para o primeiro dia da semana. Sugiro a leitura do artigo de Brian Schwertley disponível no site Monergismo: http://www.monergismo.com/textos/dez_mandamentos/Sabbath-obrigatorio-eraNT_Schwertley.pdf.
[4] “Acima deles”: seria mera especulação limitar Deus ao seu Decálogo, todavia, a questão é: Tendo a Lei origem na mente do Criador, e seus atributos e justiça refletem a sua pureza e sendo Deus imutável, Ele se faz presente em sua Lei.
[5] J. I. Packer: Pastor Anglicano, foi professor de teologia, é autor de diversos livros editados pela Editora Cultura Cristã.



REFERÊNCIAS


BÍBLIA SAGRADA - Almeida Revista e Atualizada


TOKASHIKI, Ewerton B. Estudos Doutrinais de Quartas à Noite. Porto Velho - 2009. Igreja Presbiteriana de Porto Velho.


SITE TEU MINISTÉRIO. Breve introdução: “Os Cinco Pontos do Calvinismo”. Disponível em <http://www.teuministerio.com.br/BRSPORNDESAGSA/OsCincoPontos.dsp> Acessado em 11/12/2009.


OLIVIERI, Antonio Carlos. História - A filosofia do prazer. Disponível em <http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult1704u56.jhtm>. Acessado em 11/12/2009.


SCHWERTLEY, Brian. O Sabbath é Obrigatório na Era da Nova Aliança? Disponível em <http://www.monergismo.com/textos/dez_mandamentos/Sabbath-obrigatorio-eraNT_Schwertley.pdf> Acessado em 11/12/2009.


PACKER, James I. Teologia Concisa. 2ª Edição. 2004, São Paulo. Editora Cultura Cristã. Pág. 87.

sábado, setembro 16, 2006

Amazing Grace



















Amazing grace! (how sweet the sound)

That sav'd a wretch like me!

I once was lost, but now am found,

Was blind, but now I see.


'Twas grace that taught my heart to fear,

And grace my fears reliev'd;

How precious did that grace appear,

The hour I first believ'd!


Thro' many dangers, toils and snares,

I have already come;

'Tis grace has brought me safe thus far,

And grace will lead me home.


The Lord has promis'd good to me,

His word my hope secures;

He will my shield and portion be,

As long as life endures.


Yes, when this flesh and heart shall fail,

And mortal life shall cease;

I shall possess, within the veil,

A life of joy and peace.


The earth shall soon dissolve like snow,

The sun forbear to shine;

But God, who call'd me here below,

Will be forever mine.


(Tradução)

Oh! Sublime graça do Senhor,

Um perdido e infeliz salvou;

Eu estava cego e a luz me mostrou,

Da morte me livrou.


Tua graça me ensinou temer,

Meu temor aliviou;

Quão preciosa a mim devia ser,

Na hora em que me salvou.


Batalhas mil eu enfrentei,

Jesus comigo está;

Com Sua graça salvo velejei,

E ao céu me conduzirá.


Deus me prometeu Sua porção,

Sua Palavra veio me ajudar;

Sei que eu tenho a Sua Proteção,

Enquanto a vida durar.


Falhando a carne e o coração,

E a vida mortal ter fim,

Eu receberei meu galardão,

Alegria eterna a mim.


O mundo dissolverá como a neve,

O sol a obscurecer;

A passagem aqui na terra foi breve,

Com Cristo vou viver.


Dez mil anos Contigo habitar,

Com o sol a brilhar;

Não teremos menos dias a Jesus louvar,

Que quando fomos lá morar.

terça-feira, setembro 05, 2006

Aos que Predestinou, a Estes Também Chamou


Romanos 8:28-30


“28 Sabemos
que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29
Porque os que conheceu de antemão, também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele
seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que
predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a
estes também justificou; e aos que justificou, a estes
também glorificou”.


Quando nós os filhos de Deus, nos libertamos da compulsão de auto-exaltação,
auto-justificação e auto-preservação, então vivemos pelo
eterno bem de outras pessoas, nos tornamos a luz do mundo e o
sal da terra, e as pessoas percebem em nós a existência de
Deus e dão glórias a Ele (Mateus 5.14-16). Assim, se o
propósito de Deus para nós é cumprido no mundo – fazer
conhecida a sua glória através de vidas de amor – então
devemos encontrar uma arma para vencer o orgulho e insegurança
que alimenta nossa necessidade de exaltarmos, justificarmos e
preservarmos a nós mesmos com posturas, poses, performances e
prosperidade.


A arma que
Deus pôs nas mãos de seu povo é a promessa de Romanos 8.28.
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito”. A confiança em nosso coração de que o Deus
Todo-Poderoso causa tudo o que me acontece para meu bem é a
espada qe corta pela raíz a auto-exaltação, auto-justificação
e auto-preservação. Como verso 31 diz: “Se Deus é por nós,
quem será contra nós?”.



Se, pela graça completa de
Sua soberana vontade, Deus tem estado ao seu lado e trabalha
toda dor e prazer juntos para seu bem, então nenhum oponente
pode realmente prevalecer contra você. Então, porque exaltar a
si mesmo? Porque justificar a si mesmo? Porque a dificuldade
sobre preservar a si mesmo? Se o Senhor do Universo prometeu
trabalhar por você, por que estar ansioso sobre o que os
outros pensam? Por que você está sempre em busca de conforto e
segurança? Seu Pai sabe de que você precisa e Ele


trabalha todas as coisas para o seu bem. Deixe sua exaltação,
justificação e preservação nas mãos supremas e viva em
liberdade pelos outros.

Quando o povo escolhido de Deus realmente
crê em Romanos 8.28, da infância até o túmulo eles são o povo
mais forte, generoso e livre no mundo. Se Romanos 8.28 tem
este poder na vida diária, então seu fundamento é
completamente prático. Romanos 8.29-30 é este fundamento.
Quanto melhor nós entendermos o texto e mais crermos nele,
mais certeza teremos em Romanos 8.28. E isto nos fará um povo
poderosíssimo e amabilíssimo – para a glória de Deus!


Hoje nosso foco estará na primeira frase do
versículo 30: “Aos que predestinou, a estes também chamou”.
Domingo passado nós nos concetramos no significado de nosso
“chamado” e o significado de “predestinação”. Hoje eu quero me
concentrar na conexão entre esses dois. Porém, vamos primeiro
lembrar nossas conclusões da semana passada.


Romanos 8.28 diz que todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que “são chamados segundo seu
propósito”. O que significa ser chamado? Significa que Deus
dominou a rebeldia de nossos corações, nos direcionou a Cristo
e criou amor e fé onde antes havia um coração de pedra. O
chamado é eficaz. Cria o que ordena. Não é como “Aqui, Rex!
Aqui!”. É como “Lázaro, vem para fora!” ou “Haja luz!”. O
chamado acontece na pregação da Palavra de Deus pelo poder do
Espírito do Senhor. Sobrepuja toda resistência e produz a fé
que justifica.


Uma evidência chave para esta verdade é a
sentença no versículo 30: “aos que chamou a estes também
justificou”. Somente as pessoas com fé são justificadas. Mas
Paulo diz que os chamados são justificados. Então o chamado
deve, de alguma forma, garantir a fé. Claro! O chamado é a
criação da fé. Portanto, todos os que são chamados são
certamente justificados.


Outra coisa que vimos semana passada foi
que este chamado não é uma resposta a algo que tenhamos feito.
Versículo 28 diz que nós somos chamados “segundo seu
propósito”. O propósito e o plano de Deus são a base do nosso
chamado, não nossos planos e propósitos. Este propósito é
descrito no verso 29. Note que o começo do versículo 30 é
baseado em nossa predestinação: “aos que predestinou, a estes
também chamou”. Então o termo “chamados segundo o propósito de
Deus” no versículo 28 é virtualmente o mesmo que chamados com
base na predestinação de Deus no versículo 30. Sua
predestinação e Seu propósito são o mesmo.


E o significado disto é dado no versículo
29: “Porque os que conheceu de antemão, também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele
seja o primogênito entre muitos irmãos”. O propósito pelo qual
nós somos predestinados é participar da glória do supremo
Filho de Deus. Este propósito ou predestinação é baseado
finalmente em um ato de conhecimento: “Os que conheceu de
antemão, a estes também predestinou...”


E nós argumentamos no culto da noite
passado que isto não quer dizer que Deus baseia sua
predestinação em nossa fé auto-determinada, que Ele conheceu
no princípio dos tempos. Esta interpretação intenta preservar
o auto-determinismo da vontade humana. Mas nós já vimos que a
fé é produzida pelo chamado de Deus, não por um ato humano de
auto-determinação.


O que nós vimos foram muitos outros textos
apresentando que, quando Deus conhece alguém, a este Ele
concede seu favor, ou o possui, ou o escolhe. Então, o
significado do versículo 29 é que “aqueles que Deus livremente
escolhe ou aqueles que Deus livremente concede seu favor, a
estes Ele também predestinou para serem como seu Filho, e aos
que predestinou Ele chamou”. Então o chamado de Deus é baseado
no ato divino da predestinação, que por sua vez é baseado na
eleição ou escolha que Deus fez sem algum ato ou mérito de
nossa parte.


A conclusão da semana passada foi esta: se
Deus escolheu você antes da fundação do mundo sem levar em
conta algum mérito ou atitude em você, te destinou para ser um
glorioso espelho de Cristo e revelou este propósito, chamou
você criando fé e amor por Cristo e ainda te qualificou para a
promessa de Romanos 8:28; então sua confiança nesta promessa
não será bem maior do que se simplesmente ela descansasse em
algo tão enganoso e incerto como sua vontade e sua decisão?
“Chamados segundo seu propósito” é a grande base da confiança
de que Romanos 8.28 é realmente verdadeiro para nós.


Hoje quero nos confortar na verdade de que
nosso chamado é baseado na predestinação de Deus. Versículo
30: “Aos que predestinou, a estes também chamou”. Nosso
chamado, nossa conversão, nossa regeneração, o dom da fé, são
baseados na eterna eleição de Deus e na predestinação, não em
nosso livre-arbítrio. O caminho que eu gostaria de nos levar a
isto é observar outros textos do Novo Testamento que dizem a
mesma coisa, de forma que nós veremos quão grande o fundamento
de nossa confiança em Romanos 8.28 realmente está na Palavra
de Deus.


Paulo relembra como Elias uma vez achou que
era o único crente verdadeiro assim como na época do Apóstolo,
alguns achavam que Deus rejeitou Seu povo.


Romanos 11.4-8: “ Mas que lhe diz a
resposta divina? Reservei para mim sete mil varões que não
dobraram os joelhos diante de Baal. Assim, pois, também no
tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da
graça. Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra
maneira, a graça já não é graça. Pois quê? O que Israel busca,
isso não o alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os outros
foram endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu um
espírito entorpecido, olhos para não verem, e ouvidos para não
ouvirem, até o dia de hoje ”.


Note que apenas Deus trabalhou para guardar
para si um grupo de verdadeiros crentes na época de Elias,
assim como ele fez na época de Paulo. E Paulo os chama de um
remanescente “ segundo a eleição da graça ”. O fato é que há
um grupo de pessoas que crêem, são nascidos novamente,
convertidos e chamados segundo um ato da graciosa eleição.
Eleição é a base dos remanescente fiel, não o contrário. O
texto não diz que Deus elegeu segundo quem creu, como o
pensamento da eleição baseada na fé prevista propõe. Não.
Versículo 5: “ Assim, pois, também no tempo presente ficou um
remanescente segundo a eleição da graça ”. A observação sobre
a existência de um remanescente de verdadeiros crentes
concorda com o propósito divino da eleição. “ Aos que
predestinou, a estes também chamou ”.


2 Timóteo 1.8-9: “ Portanto não te
envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou
prisioneiro seu; antes participa comigo dos sofrimentos do
evangelho segundo o poder de Deus, que nos salvou, e chamou
com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas
segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em
Cristo Jesus antes dos tempos eternos ”.


Novamente Paulo diz que o chamado não
repousa em nossas obras. Ele é segundo o propósito de Deus.
Versículo 9: “que nos salvou, e chamou com uma santa vocação,
não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio
propósito e a graça”. Nosso chamado repousa em Seu propósito e
não nos nossos. E a graça deste propósito foi “dada em Cristo
Jesus antes dos tempos eternos”. Nosso chamado é baseado na
eleição eterna de Deus. “Aos que predestinou, a estes também
chamou”.


2 Tessalonicenses 2.13: “Mas devemos sempre
dar graças a Deus por vós, irmãos amados do SENHOR, por vos
ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em
santificação do Espírito, e fé da verdade”.


O texto não diz que Deus os escolheu com
base em sua fé prevista. Diz o oposto: Deus os escolheu tendo
em vista os salvá-lo pela obra do Espírito e pela fé. A fé
auto-determinista do homem não o leva à eleição de Deus. Pelo
contrário, a eleição o leva à fé. “Aos que predestinou, a
estes também chamou”.


Efésios 2.4-6: “Mas Deus, que é riquíssimo
em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando
nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente
com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou
juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais,
em Cristo Jesus”.


Você pode perguntar: “Onde você vê eleição
e predestinação nesse texto?”. A resposta é vê-lo na palavra
“amor”. Mas você pergunta: “Deus não ama a todos?”. A resposta
é que Ele não ama todas as pessoas do mesmo modo. O amor
mencionado aqui não é o amor universal, que leva Deus a dar
vida, fôlego, sol e chuva. Não, é mais precioso que isso.


Paulo diz por ESTE muito amor, Deus nos
vivificou quando ainda estávamos mortos. Agora, se Deus amou a
todos com este amor, todas as pessoas seriam vivificadas em
Cristo e todos seriam salvos. Quando Paulo glorificou o amor
de Deus por ele em Jesus Cristo, ele não glorificou meramente
a OFERTA de salvação a todos que vierem a Cristo. Ele
glorificou a profundíssima e maravilhosa verdade com que Deus
o levou a Cristo. Antes ele estava morto no pecado. Agora ele
vive. E a origem deste milagre é o amor de Deus. E, desde que
Deus não realiza este milagre em todos, isto é um amor
eletivo. Assim, a eleição é clara nesta passagem e é a base da
nossa conversão, da nossa regeneração e da nossa fé. “Aos que
predestinou, a estes também chamou”.


1 Coríntios 1.26-31: “ Porque, vede,
irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo
a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são
chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para
confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste
mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis
deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para
aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante
ele. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi
feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e
redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria
glorie-se no Senhor ”.


Considere seu chamado. Isto é, olhe ao
redor de você em Corinto e veja que tipo de pessoas se
tornaram cristãos. Considere quem tem sido chamado de forma
eficaz pela fé. O que você vê? Não muitos sábios, ou
poderosos, ou nobres. Por que não? Porque Deus é o único que
escolhe quem será salvo em Corinto, e Deus intenta escolher de
uma forma que eliminará o caminho da auto-exaltação. Três
vezes Paulo diz “Deus escolheu”. Deus não permite a idéia da
salvação pela determinação do homem porque então nós
determinaríamos a construção da igreja e teríamos algo para
nos gloriarmos.


Versículo 30 diz literalmente “vós sois
dele, em Jesus Cristo”. Nós não colocamos a nós mesmos em
Cristo Jesus. Deus trabalhou em nós de forma que nós
estivéssemos unidos a Cristo em fé. Por quê? Para que ninguém
se glorie perante Deus. Portanto, deixemos que aquele que se
glorie glorie-se no Senhor! Deus fez as escolhas em Corinto. E
com base nestas escolhas, Ele chamou, isto é, uniu pessoas em
Cristo. “Aos que predestinou, a estes também chamou”.


Atos 13.47-48: Paulo está pregando na
sinagoga em Antioquia da Pisídia. Quando o sermão termina,
Lucas faz um comentário que nos mostra sua profunda harmonia
teológica com os escritos paulinos. Paulo termina sua pregação
com estas palavras:


“Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te
pus para luz dos gentios, A fim de que sejas para salvação até
os confins da terra. E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se,
e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos
estavam ordenados para a vida eterna ”.


Isto é idêntico ao que Paulo diz em Romanos
8.30. “Aos que predestinou, a estes também chamou” quer dizer
o mesmo que “ e creram todos quantos estavam [pré]ordenados
para a vida eterna”. A doutrina da predestinação de Paulo não
o deteu de seu trabalho missionário mundial. Pelo contrário, o
estimulou saber que Deus tinha muitas pessoas entre as nações
que seriam chamadas de forma eficaz pela pregação do evangelho
(Atos 18.10). Aos que Deus predestinou, Ele, com certeza
absoluta, chamará. Nisto reside a esperança e confiança do
todo o investimento missionário.


João 8.46,47; 10.25-27: Jesus repetidamente
apresenta a questão no evangelho de João do porquê de algumas
pessoas crerem e outras não. Ele nunca dá a popular resposta
de que depende do poder humano de auto-determinação. Jesus
remete repetidamente a algo bem mais profundo.


“Quem dentre vós me convence de pecado? E
se vos digo a verdade, por que não credes? Quem é de Deus
escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais,
porque não sois de Deus ”. (8.46-47)


O que leva uma pessoa a desejar e crer nas
palavras de Deus repousa em algo bem mais profundo. A pessoa é
DE DEUS ou não é DE DEUS? Isto é, a pessoa é escolhida de
Deus? Nascida de Deus? Filha de Deus? Não importa quais sejam
o “de Deus” ela desejará ouvir. Todos quanto estão ordenados
para a vida eterna creram. “Aos que predestinou, a estes
também chamou”.


“As obras que eu faço, em nome de meu Pai,
essas testificam de mim. Mas vós não credes porque não sois
das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas
ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem
”. (10.25b-27)


“Vós não credes porque não sois das minhas
ovelhas ”. Note que não diz “vocês não são das minhas ovelhas
porque não acreditam”. Pertencer a Jesus não é baseado em
minha fé. Eu devo crer para evidenciar que sou das ovelhas de
Jesus. E se eu persistir na incredulidade, então mais
evidentemente eu não sou das ovelhas de Jesus. Deus me fez uma
ovelha de acordo com a eleição da graça que me foi dada em
Cristo Jesus há muito tempo. E quando as ovelhas ouvem o
evangelho, elas acreditam. Aos que ele predestinou a serem
ovelhas, Ele também chamou à fé de modo eficaz!


A conclusão que eu tiro então é que há uma
gigantesca fundamentação no Novo Testamento para a verdade de
Romanos 8.30, que o chamado de Deus é baseado em Sua
predestinação, e que a predestinação não é baseada em nada em
nós. Não é em nossa dignidade como pessoas (assim todos se
qualificariam) nem em nossa fé (que é um dom de Deus). Nossa
eleição é incondicional. Aos que ele conheceu de antemão, a
estes também predestinou e aos que predestinou, a estes também
chamou.



Implicações


1.
Nós somos confrontados com a escolha entre uma popular
especulação filosófica de um lado e a persuasiva doutrina
bíblica do outro. A filosofia popular diz que nós devemos ter
o poder de auto-determinação definitivo para que possamos
responder por nossas escolhas. A Bíblia, por outro lado, deixa
claro em uma centena de passagens que não há poder de
auto-determinação e a salvação nada tem a ver com a
responsalidade por nossas escolhas. Você seguirá a filosofia
humana ou a Bíblia? A Bíblia já ganhou sua confiança o
bastante para que você submeta seus conceitos aos julgamentos
dela? Ou continuará a submetê-la aos seus?


Uma das críticas que algumas vezes são
feitas contra aqueles que abraçam as doutrinas da eleição
incondicional e soberania da graça é que somos escravizados
pela lógica e dirigidos por um racionalismo inexorável, que
nos força a dizer coisas sobre Deus que não são ensinadas nas
Escrituras. Eu suspeito que seja verdade para algumas pessoas.


Mas minha experiência me diz que o oposto
também é o caso. Recentemente, perguntei para um amigo como
ele interpretava as palavras de Atos 13.48: “ creram todos
quantos estavam ordenados para a vida eterna”. Ele disse “oh,
eu interpreto isso à luz de todos os outros textos bíblicos
que ensinam que o homem tem o poder final de escolha”. Então
eu perguntei “Como assim? Você poderia me dar um exemplo de um
texto desses?”. Ele disse “Bem, não, mas está implícito em
todos os lugares”.


O que se torna claro depois de uma pequena
discussão foi que ele ASSUME, ele PRESSUPÕE que você não pode
ter explicação sem a auto-determinação do homem, tanto que em
todo lugar que vê explicação na Bíblia, ele vê o poder final
da auto-determinação do homem.


Nós somos apresentados a uma escolha
crucial: iremos deixar a Bíblia nos ensinar coisas que são
estranhas ao nosso modo de pensar? Ou iremos jogr nossas
idéias pré-concebidas no texto e dizer “Assim não pode ser.
Isso não se encaixa com minhas suposições”?


2.
As doutrinas da eleição incondicional, predestinação e chamado
eficaz tendem a eliminar todo orgulho, soberba e
auto-confiança. Eu já discuti muitas vezes com outros teólogos
que dizem “você não precisa lançar fora a auto-determinação
final para tirar o orgulho. Tudo o que você precisa fazer é
insistir na FÉ para salvação ao contrário de obras
meritórias”. Eles argumentam a partir de Romanos 3.27 que a fé
exclui o orgulho. Então você não precisa dizer que a fé é um
dom a fim de eliminar o orgulho, a soberba e a auto-confiança.


Minha resposta tem duas partes. Primeiro,
eu não me sinto dirigido pela lógica para chamar a fé de dom
com o objetivo de cortar meu orgulho; eu me sinto dirigido
pela exegese. O Novo Testamento ensina que nós estamos mortos
em nossos pecados e devemos ser chamados de forma eficaz. A fé
ordenanda também deve ser criada se alguém tem de ser salvo.
Eu não insisto nesta idéia porque eu acho que é um bom meio de
destruir o orgulho. A Bíblia ENSINA isto. E isto ajuda a
sobrepujar o orgulho.


Em segundo lugar, eu acho que a razão pela
qual uma genuína fé neotestamentária elimina nossa vaidade é
que é uma confiança em Deus; não apenas pela provisão da
salvação na cruz, mas também por aplicar a salvação em meu
coração. Em outras palavras, minha fé não diz apenas “Eu
escolho crer em Cristo”. Ela também diz “Eu escolho crer que
Deus Pai me levou a Cristo e me deu o desejo de crer em
Cristo” (João 6.44,65). Ou, falando de outra maneira, a fé
repousa em toda a verdade bíblica, não apenas em uma parte
dela. A fé elimina todo orgulho, soberba e auto-confiança
precisamente a ponto de que é uma fé que Deus fez por nós o
que não poderíamos fazer por nós mesmos – o que inclui a
vontade de crer. A fé crê num Deus que fez tudo na salvação,
não apenas uma parte da salvação. E a salvação inclui nosso
chamado eficaz que criou nossa fé.


Você estava se afogando e o Filho de Deus
jogou um tubo de respiração ao seu lado. Você nadou
vigorosamente até ele, e pôde chegar à margem, então você
deveria agradecê-lO. Você não ganha crédito algum pelo tubo de
respiração.


Mas suponha que você tem sido um inimigo de
longa data dEle, e você estava morto no fundo de um lago. Ele
te encontrou, te trouxe à superfície e se esforçou tanto para
te trazer à vida, que terminou exausto ao seu lado e morreu.
Então, suponha que, quando você se ajoelhou sobre o corpo, com
lágrimas de amor descendo por sua face, você ouve uma voz
vinda do céu dizendo: “Este é meu Filho amado, em quem me
comprazo. Levante-se, meu Filho!”. Ele se levanta e
aproxima-se, te olha com a mais profunda afeição que você já
viu. Toma sua mão e lhe puxa firme e gentilmente para seu lado
e diz: “Siga-me, e eu farei todas as coisas cooperarem para
seu bem pelo resto de sua vida”.


Qual é a sua idéia de como você foi salvo?
Pode ser que muitos dos problemas de sua vida se devem ao fato
de que você nunca entendeu como foi salvo – ou talvez você
nunca foi salvo?



3.

As doutrinas da soberania de Deus
tendem a produzir humildade, submissão e paciência entre todos
que as abraçam. Efésios 4.1-2 diz “ Rogo-vos, pois, eu, o
preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que
fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor”. Uma das
razõess pelas quais um chamado altíssimo produz uma caminhada
submissa é que a decisão de Deus de nos chamar ao Seu Reino
não se deve a absolutamente nada em nós mesmos.

Uma vez que está gravada em seu coração a
certeza de que Deus o escolheu para a salvação antes que você
cresse ou tivesse feito alguma coisa pra isso, sua tendência a
se orgulhar ante as outras pessoas será cortada pela raíz.
“Que tens tu que não tenhas recebido?”, Paulo diz. “E, se o
recebeste, por que te glorias, como se não o houveras
recebido?” (1 Coríntios 4.7).


Uma criança que ganhou dois carrinhos de
Natal pode rebaixar seu irmão que ganhou apenas uma carrinho
SE seus pais baseassem nos merecimentos dos filhos ou nas
decisões das próprias crianças. Mas se as escolhas foram
feitas sem levar em conta qualquer merecimento das crianças,
se as escolhas deles foram feitas por sabedoria e bons
propósitos que estão além da capacidade das crianças em
entender, então humilhar o irmão é proibido. O meio mais
humilhante de ser tratado em todo o mundo é ser tratado com
absoluta misericórdia.



4.

Se a doutrina da soberania de Deus é
verdadeira, então Ele realmente pode cumprir sua aliança de
escrever Sua lei em nossos corações (Jeremias 31.33), nos
fazer caminhar nos Seus estatutos (Ezequiel 36.27) e nos
conformar à imagem de Seu Filho (Romanos 8.29). Se Deus desse
o poder final à nossa auto-determinação, Ele talvez não fosse
capaz de cumprir Suas promessas de que um dia haveriam pessoas
que realmente O obedeceriam.

Se todas as pessoas no mundo realmente
tivessem o poder de determinação final e decidissem usá-lo
para se rebelar contra Deus, Ele nada poderia fazer sobre
isso. O único meio que a promessa de Deus de um povo com novos
corações de obediência pode ser garantida é dizer que Deus
sobrepujará a auto-determinação pecaminosa das pessoas, dará a
elas novas corações e as fará caminhar em Seus caminhos. E
assim, a doutrina do chamado eficaz de Deus, baseada em sua
eleição incondicional é o grande fundamento da nossa confiança
de que Ele cumprirá para nós as promessas da nova aliança: “ E
lhes darei um mesmo coração, e um só caminho, para que me
temam todos os dias” (Jeremias 32.39).


5.
Também a promessa missionária de que um dia haverão crentes de
toda tribo, língua, povo e nação adorando a Deus no Reino –
esta promessa não teria garantia se a salvação repousasse
definitivamente nas mãos da auto-determinação dos seres
humanos. O fato de Deus ter o direito e o poder de chamar
eficazmente quem Ele desejar, de todo grupo étnico da Terra, é
a sólida fundação de nossa confiança de que a Grande Comissão
não será frustrada pela dureza do coração humano. As doutrinas
da graça são a dinamite de Deus nos lugares difíceis da
evangelização mundial.


6.
A soberania de Deus na salvação fortifica a verdadeira
segurança do crente. Se você acredita que Deus te escolheu
desde toda eternidade, que Ele te predestinou para partilhar a
glória de seu Filho e que Ele então trabalhou miraculosamente
para te chamar da morte para a vida, fazendo você crer em
Cristo, então sua confiança de que Ele é por você e completará
a obra de Sua salvação, que foi planejada eras atrás, é
simplesmente tremenda.


Mas se você apenas acredita que Deus
definiu um caminho geral de salvação sem qualquer indivíduos
particulares em vista e que, assim, você poderia ser parte
desta salvação ou não, então sua segurança descansará numa
fundação fraquíssima. Eu tenho como algo muito precioso saber
através de Deus que minha vida eterna é baseada em Sua decisão
pessoal eterna de me dar uma porção na glória de Seu Filho e
que minha grande fé é parte de Seu esforço onipotente para
cumprir este propósito para mim. Que segurança maior pode
existir?


7.
O trabalho do pregador é indispensável e invencível. Paulo diz
em 2 Tímoteo 2.10: “ Portanto, tudo sofro por amor dos
escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está
em Cristo Jesus com glória eterna”.


Os escolhidos definitivamente OBTERÃO
salvação: aos que conheceu de antemão, a estes também
predestinou; aos que predestinou, a estes também chamou; aos
que chamou, a estes também justificou e aos que justificou, a
estes também glorificou. Ninguém pode enganar os escolhidos
(Mateus 24.24). Portanto, a pregação é invencível.


Entretanto, Deus ordenou que a forma pela
qual os eleitos serão preservados do erro e da incredulidade e
também obter salvação é através da pregação da palavra e por
oração. Assim, Paulo diz que ele tudo sofre por amor dos
escolhidos, para que eles alcancem a salvação. A pregação de
Paulo é o meio escolhido por Deus para preservar a fé dos
eleitos pela edificação da palavra. A pregação aos eleitos é
indispensável – está a forma ordenada por Deus para
sustentá-los até o fim; e a pregação é invencível – a ovelha
sempre ouve a voz do verdadeiro pastor e responde.


8.
A não ser que você aceite a doutrina da eleição incondicional,
da predestinação e do chamado eficaz, você nunca compreenderá
plenamente o significado da graça e nunca dará a Deus a glória
da qual Ele é digno.


Nós a chamamos de “graça soberana” porque
graça não é meramente uma oferta de salvação; é também um
poder que salva. Paulo deixa isto muito claro em Efésios
2.5,6. “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos
vivificou juntamente com Cristo (PELA GRAÇA SOIS SALVOS), e
nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos
lugares celestiais, em Cristo Jesus”. A razão de Paulo inserir
esses parênteses foi ensinar-nos que a graça é um poder que
ressuscita os mortos e, portanto, é TOTALMENTE imerecida.


Nós nunca sentiremos a maravilha completa
da graça até que desistamos da nossa idéia de que damos a
palavra final em nossa salvação. Nunca seremos sinceros em
relação à soberania de Deus em nossas vidase daremos a Ele
toda a glória por nossa salvação até que reconheçamos que
somos tão inúteis que Ele teve de fazer tudo.


Lucas nos conta uma história sobre Herodes
no livro de Atos. Um dia, ele vestiu seus trajes reais, tomou
seu lugar no trono e fez um discurso aos visitantes de Sidom e
Tiro. O povo, querendo agradar Herodes, começou a gritar “voz
de Deus, não de homem”. Lucas diz que imediatamente um anjo do
Senhor o feriu, porque ele não deu glória a Deus; ele foi
comido por vermes e morreu (Atos 12.23).


Diante disso, eu pergunto: se a ira de Deus
se voltou contra um homem que não deu glórias a Ele por algo
tão pequeno como o dom da oratória, quão grande é o perigo
sobre as cabeças daqueles que se recusam a glorificar o Senhor
pelo muito maior dom da fé?


John Piper

Traduzido
por: Josaías Cardoso Ribeiro Jr.

sexta-feira, setembro 01, 2006

O Batismo de Fogo


Quando consideramos o batismo há três perguntas que devemos fazer:

1 - Quem é a pessoa que administra o batismo?
2 - Com o que se batiza? (água, Espirito, fogo etc)
3 - Quem é a pessoa batisada?

I. Quem é a pessoa que administra o batismo?

Neste caso, Cristo é quem administra o batismo: Mt. 3:11: “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.”

II. Com o que se batisa? (água, Espirito, fogo etc)

O propósito do trabalho de João foi a manifestação de Cristo para Israel (Jo. 1:31) e também para preparar Israel para receber a Cristo (Lc. 1:17) Ele batizava com água.

Segundo o mesmo Jesus, ele ira batizar as pessoas com o “Espirito Santo e fogo”

Este batismo estava relacionado com o juizo do povo de Israel. (Mt. 3:12)
Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará.


Assim ha três batismos importantes para considerar:

1. O batismo na agua administrado por João ao povo;

2. O batismo com agua administrado por João a Jesús;

3. O batismo com fogo administrado por Jesus a Israel.

O batismo de fogo de Mt. 3:12 “ fala da indignação de Deus pelo pecado cometidos por Israel ao regeitar a Jesus como o Messias. Hb. 10:26-31

O fogo na Escritura nos leva a ideia de juizo ou de uma prova. I Pe. 3:12 “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós,…”.

Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça? Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

Assim será o batismo administrado por Jesus no juizo. A idéia dos Pentescostais de que João fazia referência ao que iria acontecer no dia de Pentecostes é contrariamente explicada por João mesmo em Mt. 3:12.

III. Quem é a pessoa batizada?

Os adversários de Cristo e de suas Igrejas eram os Judeus. Alguns Israelitas receberam a Cristo como o Messias, mais os que o rejeitaram são chamados palha e sabemos que a palha queima fácilmente. A expreção “em sua mão tem a pá”, significa que o juizo era eminente. Este juizo ocorreo no ano 70 quando os exercitos romanos destruiram a cidade de Jerusalém, o templo e todo sistema religioso judeo.

Nota do Tradutor

Este texto não esta no original apenas foi adicionado para melhor compreensão do artigo.

João não possuiu o poder que Jesus tem. João tinha poder para batizar nas águas, mas Jesus batizaria com o Espírito Santo e com fogo.
Obs.: Os comentários de João em 3:11 sobre os batismos têm sido usados para defender várias idéias erradas sobre o batismo com o Espírito Santo. Preste atenção neste trecho para observar:

(1) Que João não está dizendo que o batismo com o Espírito Santo é mais importante do que batismo nas águas. A comparação não está entre batismos, e sim entre pessoas. João tinha poder sobre um pouco de água. Jesus tem poder sobre o Espírito Santo e sobre o fogo.

(2) O sentido de "fogo" neste contexto. Muitas pessoas associam o fogo daqui com as "línguas, como de fogo" do dia de Pentecostes (Atos 2:3). Mas o contexto de Mateus 3 mostra que o batismo com fogo é o castigo eterno dos malfeitores (leia, de novo, 3:10 e 3:12).
Tradução: Daniel L. Petersen

Calvino, as Institutas e a Reforma Protestante


Carta ao Rei Francisco, mui poderoso monarca, cristianíssimo rei dos franceses, seu príncipe, João Calvino roga paz e salvação em Cristo.

"Quando inicialmente, lancei mão da pena para escrever esta obra, meu principal objetivo, ó Mui Preclaro rei, era o de escrever algo que, depois, pudesse ser apresentado diante de tua majestade. Meu objetivo era o de apenas ensinar certos rudimentos em função dos quais fossem instruído, na verdadeira piedade, todos quantos são tocados por algum zelo de religião. Resolvi fazer este trabalho principalmente, por amor aos nossos compatriotas franceses, muito dos quais eu via famintos e sedentos de Cristo, e a muito poucos, porém, eu via imbuídos devidamente de conhecimento sequer modesto a respeito dEle.
O próprio livro, composto de forma de ensinar simples e até chã, mostra que foi esta a intenção proposta"

João Calvino

Quando João Calvino começou a escrever a primeira edição das Institutas da Religião Cristã, em 1535, com a idade de 27 anos, sua intenção era de servir grandemente aos interesses protestantes, mas sua influência deve ter excedido em muito a sua expectativa. Provou ser o trabalho mais influente da Reforma Protestante. Os protestantes de outros países, viram em Calvino, e em sua obra, um pilar de grande força para a obra iniciada, pois que era um teólogo do mais alto grau, enquanto que os romanistas temeram sua caneta como um dos inimigos mais fortes. Certo escritor católico, teve que dizer o seguinte a respeito das "Institutas":
"É o Alcorão, o Talmud da heresia, a causa principal de nossa queda... o arsenal comum do qual os oponentes da velha Igreja obtiveram emprestado as armas mais agudas. Nenhum escrito da era da reforma é mais temido pelos católicos romanos e mais zelosa e hostilmente combatido, que as "Instituas" de João Calvino".
A cidade suíça de Genebra, debaixo da influência de Calvino como pastor e reformador, se tornou um refúgio para o qual os fugitivos podiam abrigar-se livres de perseguição e era um local onde eles aprendiam e equipavam-se como missionários e reformadores para o envio ao serviço do evangelho. Verdadeiramente Genebra era o centro da reforma protestante. O imperador Philip II, filho de Charles V, expressou o pensamento de muitos inimigos da Reforma quando ele escreveu o seguinte para o Rei de França, relativo a Genebra: "Esta cidade é a fonte de todo o dano para a França e o maior inimigo de Roma. A qualquer hora que precises de mim, estou pronto para ajudar, com todo o poder do meu reino, para subvertê-la".
O governo francês, por sua parte, ameaçou destruir a cidade se ela não mantivesse os seus evangelistas dentro de seus limites geográficos, tendo enviado um embaixador com esta notificação àquela cidade. Os evangelistas protestantes, continuaram vertendo adiante, em desafio ao governo francês, depois que Calvino pronunciou aos magistrados da cidade de Genebra as seguintes palavras corajosas: "Já que a cidade só depende do Deus Onipotente para sua proteção, a prudência mais alta consiste na obediência mais perfeita ao Testamento dEle".

* * *

Calvino nasceu na pequena cidade de Noyon, na França, em 10 de junho de 1509, quando Lutero já havia ditado suas primeiras conferências na Universidade de Wittenberg. Seu pai pertencia à classe média da cidade e trabalhava principalmente como secretário do bispo e procurador da biblioteca da catedral. Fazendo uso de tais conexões, procurou para seu filho os benefícios eclesiásticos com os quais custeasse seus estudos.
Com esses recursos, Calvino foi estudar em Paris, onde conheceu tanto o humanismo como a reação conservadora que se lhe opunha. A discussão teológica que tinha lugar nos seus dias levou-o a conhecer as doutrinas de Wyclif, Huss e Lutero. Porém, segundo ele mesmo disse: "estava obstinadamente atado às superstições do papado". Em 1529 completou seus estudos em Paris, ao obter o grau de Mestre em Artes, e decidiu dedicar-se à jurisprudência. Com esse propósito, continuou seus estudos em Orleans e em Bourges, sob a orientação dos dois mais célebres juristas daquela época: Pierre de I'Estoile e Andrea Alciati. O primeiro seguia os métodos tradicionais no estudo e na interpretação das leis, enquanto o segundo era um humanista elegante e talvez algo vaidoso. Quando houve um debate entre ambos, Calvino interveio em favor do primeiro. Isto é importante porque indica que, ainda nesses tempos em que começava a desejar cultivar um espírito humanista, ela não senti simpatias pela elegância vã de que freqüentemente se viam possuídos alguns dos mais famosos humanistas.
Não se sabe o motivo certo que levou Calvino a abandonar a fé romana, nem a data exata em que isso ocorreu. Diferentemente de Lutero, Calvino nos diz muito pouco sobre o estado interior de sua alma. Porém o mais provável parece ser que, no meio do círculo de humanistas que freqüentava e através de seus estudos das Escrituras e da antigüidade cristã, Calvino chegou à convicção de que teria de abandonar a comunhão romana e seguir o caminho dos protestantes.
Em 1534, se apresentou em sua cidade natal e renunciou aos benefícios eclesiásticos que seu pai havia conseguido e que eram a sua principal fonte de sustento econômico. Se ele já estava decidido neste momento, a abandonar a igreja romana, ou se esse ato foi simplesmente um passo a mais na sua peregrinação espiritual, nos é impossível saber. O fato é que em outubro de 1534 Francisco I, até então relativamente tolerante com os protestantes, mudou sua política e, em janeiro seguinte, Calvino se exilava na cidade protestante de Basiléia.
Calvino sentia-se chamado a dedicar-se ao estudo e às obras literárias. Seu propósito não era de modo algum chegar a ser um dos líderes da Reforma, mas sim encontrar um lugar tranqüilo onde pudesse estudar as Escrituras e escrever sobre a nova fé. Pouco antes de chegar a Basiléia, havia escrito um breve tratado sobre o estado das almas dos mortos antes da ressurreição. Segundo ele encarava sua própria vocação, sua tarefa consistiria em escrever outros tratados como esse, que serviriam para aclarar a fé da igreja numa época de tanta confusão.
Portanto, seu principal projeto era um breve resumo da fé cristã do ponto de vista protestante. Até então, quase toda literatura protestante, chegava pela urgência da polêmica, e assim tratava somente dos pontos em discussão, e havia dito pouca coisa sobre outras doutrinas fundamentais do cristianismo, como por exemplo a Trindade, a Encarnação, etc. O que Calvino se propunha então era cobrir esse vazio com um breve manual ao qual deu o título de "Institutas da Religião Cristã".
A primeira edição surgiu em Basiléia, no ano de 1536. Era um livro de 516 páginas, porém de formato pequeno, de modo que cabia facilmente nos amplos bolsos que se usavam antigamente, e podia, dessarte, circular dissimuladamente pela França. Constava de apenas seis capítulos. Os primeiros quatro tratavam sobre a lei, o Credo, o Pai Nosso e os sacramentos. Os últimos dois , de tom mais polêmico, resumiam a posição protestante com respeito aos "falsos sacramentos" romanos e a liberdade cristã.
O êxito desta obra foi imediato e surpreendente. Em nove meses se esgotou a edição, que, por estar em latim, era acessível a leitores de diversas nacionalidades.
A partir de então Calvino continuou preparando edições sucessivas das Institutas que foi crescendo segundo iam passando os anos. As diversas polêmicas da época, as opiniões de vários grupos que Calvino considerava errados e as necessidades práticas da igreja, foram contribuindo para o crescimento da obra, de tal maneira que para seguirmos o curso do desenvolvimento teológico de Calvino e das polêmicas em que se envolveu, bastaria comparar as edições sucessivas das Institutas. O que não é possível fazer aqui.
Foram editadas cerca de nove vezes, sendo que as últimas edições datam de 1559 e 1560. Este texto definitivo dista muito de ser o pequeno manual de doutrina que Calvino tinha tido em mente publicar quando da primeira edição, pois os seis capítulos de 1536 se haviam transformado em quatro livros com um total de oitenta capítulos. O primeiro livro trata sobre Deus e sua revelação, assim como da criação e da natureza do ser humano, porém sem incluir a queda e a salvação. O segundo livro trata sobre Deus como redentor e o modo em que se nos dá a conhecer primeiramente no Antigo Testamento, e depois em Jesus Cristo. O terceiro livro trata sobre como, pelo Espírito, podemos participar da graça de Jesus Cristo e dos frutos que Ele produz. Por último, o quarto livro trata dos "meios externos" para essa participação, isto é, fala-nos sobre a igreja e os sacramentos. Por toda obra se manifesta um conhecimento profundo, não só das Escrituras, mas também de antigos escritores cristãos, particularmente Agostinho, e as controvérsias teológicas do século XVI. Sem dúvida alguma, esta foi a obra-prima de teologia sistemática protestante em todo esse século.
Mas , na realidade, Calvino não tinha a menor intenção de se dedicar ativamente à obra de reformador. Pois mesmo sentindo grande admiração por aqueles que assim fizeram, seu maior desejo era o de poder se dedicar ao estudo e a literatura reformada, não se vendo como pastor ou mesmo capacitado para tal obra.
Seu objetivo era de se estabelecer em Estrasburgo, onde a causa reformadora havia triunfado, e onde havia uma grande atividade teológica e literária que lhe parecia oferecer um ambiente propício para seus trabalhos.
Mas, quando para lá se dirigia, teve de desviar seu caminho e passar por Genebra, em virtude de uma guerra. A situação em Genebra diferia em muito da de Estrasburgo, pois era muito confusa, tendo em vista a recem-chegada fé reformada levada por Guilherme Farel e um grupo de missionários advindo de Berna, que necessitava muito de ajuda para conduzir a vida religiosa na cidade.
Calvino chegou a Genebra com a intenção de passar ali, não mais que um dia , e prosseguir caminho para Estrasburgo. Porém, alguém avisou a Farel da presença de Calvino, o autor das Institutas, que logo foi procurado e com quem obteve uma entrevista marcante.
Farel, que "ardia com um maravilhoso zelo pelo avanço do evangelho", apresentou a Calvino várias razões pelas quais precisava de sua presença em Genebra. Calvino escutou atentamente seu interlocutor, uns quinze anos mais velho que ele, porém se negou a aceitar seu rogo, dizendo-lhe que tinha projetado certos estudos e que não lhe parecia possível terminá-los na situação em que Farel descrevia. Quando por fim Farel tinha esgotado todos os seus argumentos, sem conseguir convencer ao jovem teólogo apelou ao Senhor de ambos e insurgiu contra o teólogo com voz estridente: "Deus amaldiçoe teu descanso e a tranqüilidade que buscas para estudar, se diante de uma necessidade tão grande te retiras e te negas a prestar socorro e ajuda".
Diante de tal imprecação, nos conta Calvino: "essas palavras me espantaram e me quebrantaram e desisti da viagem que tinha empreendido". E assim começou a carreira de João Calvino como reformador de Genebra.
Mesmo que de início Calvino aceitasse simplesmente permanecer na cidade, e colaborar com Farel, logo sua habilidade teológica, seu conhecimento da jurisprudência e seu zelo reformador fizeram dele o personagem central da vida religiosa da cidade, enquanto que Farel gostosamente se tornava um seu colaborador. Porém nem todos estavam dispostos a seguir o caminho da reforma que Calvino e Farel haviam traçado. E quando começaram a exigir que se seguissem verdadeiramente os princípios protestantes, muitos dos burgueses que haviam apoiado a ruptura com Roma começaram a oferecer-lhes resistência, ao mesmo tempo que faziam chegar a outras cidades protestantes da Suíça rumores sobre supostos erros dos reformadores genebrinos. O conflito se travou finalmente em torno do assunto do direito da excomunhão. Calvino insistia em que, para que a vida religiosa se conformasse verdadeiramente aos princípios reformadores, era necessário excomungar os pecadores impenitentes. Diante do que pareceu um rigor excessivo, o governo da cidade se negou a seguir os conselhos de Calvino. Posteriormente, o conflito foi tal que Calvino foi desterrado. O fiel Farel, que poderia permanecer na cidade escolheu antes o exílio que tornar-se um instrumento dos burgueses, que queriam uma religião com toda sorte de liberdade e poucas obrigações.
Calvino viu nisso tudo uma porta que o céu lhe abria para continuar sua vida de estudos e retiro, que havia projetado, e se dirigiu a Estrasburgo. Porém nessa cidade o chefe do movimento reformador, Martinho Bucero, também não o deixou em paz. Havia ali um forte contingente de franceses, exilados por motivos religiosos, carentes de direção pastoral, e Bucero fez com que Calvino se encarregasse deles. Foi aí então que o nosso teólogo produziu uma liturgia francesa e traduziu vários salmos e outros hinos, para que fossem cantados pelos franceses exilados. Além disso produziu a Segunda edição das Institutas, e se casou com a viúva Idelette de Bure, com quem foi feliz até que a morte o levou em 1549.
Os três anos que Calvino passou em Estrasburgo foram provavelmente os mais felizes e tranqüilos de sua vida. Porém apesar disso, lhe doía sempre não Ter podido continuar a obra reformadora em Genebra, por cuja igreja sentia um grande amor e responsabilidade. Portanto, quando as circunstâncias mudaram na cidade suíça e o governo o convidou a regressar, Calvino não vacilou e uma vez mais ficou com a responsabilidade da obra reformadora em Genebra.
Foi em meados de 1541 que Calvino regressou a Genebra. Uma de suas primeira ações foi redigir as Ordenanças Eclesiásticas, que foram aprovadas pouco meses depois pelo governo da cidade, se bem que com algumas emendas. Segundo se estabelecia nelas, o governo da igreja ficava principalmente nas mãos do Consistório, que era formado pelo pastores e por doze leigos que recebiam o nome de "anciãos". Visto que os pastores eram cinco, os leigos eram a maioria no Consistório. Porém apesar disso o impacto pessoal de Calvino era tal que quase sempre esse corpo seguia suas orientações e seus desejos.
Em 1559 Calvino viu cumprir-se um de sues sonhos, ao ser fundada a Academia de Genebra, sob a direção de Teodoro de Beza, que depois sucedeu Calvino como chefe religioso da cidade. Naquela academia se formou a juventude genebrina segundo os princípios calvinistas, Porém seu principal impacto se deve a que nela cursaram estudos superiores pessoas procedentes de vários outros países, que depois levaram o calvinismo a eles.

"A Era dos Reformadores" - Justo L. Gonzalez

João Calvino


(Noyon, Picardia, 1509-Genebra, 1564)

Teólogo e reformador protestante francês (Noyon, Picardia, 1509-Genebra, 1564). Neto de um tanoeiro, o seu pai, notário apostólico, procurador do Cabido e secretário do Bispo de Noyon, é um homem pobre e com muitos filhos. O seu filho João mostra desde criança grande vocação, e é apoiado pela mãe. Colocado primeiro no Colégio dos Capeto, é posteriormente admitido entre os filhos do Senhor de Mommor, cuja educação compartilha. Em 1523 vai estudar na Universidade de Paris e, após frequentar dois colégios ou faculdades, chega a ser um humanista distinguido. O pai tem-o destinado à teologia e obtém para ele o proveito de uma capela da Catedral de Noyon (1521) e, mais tarde, a paróquia de Marteville (1527). Mas num dado momento muda de ideias e anima o filho a estudar Direito, enviando-o às Universidades de Orleães e de Bourges (1528-33). Em Bourges tem intensas relações com o helenista alemão Wolmar. Em Orleans inicia-se nas novas doutrinas (luteranas) juntamente com o seu primo Robert Olivetan. Mas não parece que por aquela altura as aceite já.
A partir de 1533, os laços que o unem ao catolicismo afrouxam. O discurso que redige em Paris, onde estuda (1533), contém várias heresias. Preocupado por este discurso, refugia-se em Saintonge junto do cónego Louis de Tillet, de onde se dirige de imediato a Navarra, sob a protecção da rainha Margarida. Nos primeiros meses de 1534 passa-se definitivamente para o protestantismo. No Outono de 1534 retira-se para Estrasburgo e, posteriormente, para Basileia. Nesta última cidade dá por findo, em 1535, o seu livro, Institutio Religionis Christianae, que publica primeiro em latim (1536) e de seguida em francês (1541). No intervalo, Calvino é chamado a Genebra para ensinar Teologia. Mas em 1538, após pretender reformar os costumes da cidade e introduzir nela uma severa disciplina, é expulso juntamente com Farel.
Calvino volta a Estrasburgo, onde se dedica a estudos alemães. Assiste às Conferências de Ratisbona e Worms. Em 1540 casa-se com uma viúva com fama de virtuosa, que lhe dá um filho que morre ainda criança. Ainda em 1540 é novamente chamado a Genebra e, a partir de Setembro de 1541, exige que se proceda à redacção das Ordonnances Ecclésiastiques, que fazem da referida cidade a praça-forte do protestantismo. Com inflexível severidade, estende aos costumes a reforma que tem aplicado ao dogma e ao culto, e persegue com rigor todos aqueles que considera adversários. Entre as vítimas da sua intolerância há que citar Jacques Gruet e, sobretudo, o espanhol Miguel Servet, que descobre a dupla circulação do sangue, sendo queimado na fogueira em 1553.
Precisamente a partir desta última data, a sua influência na cidade é preponderante. Não se contenta em lutar contra o partido dos «libertinos». Seguindo o exemplo de outros reformadores, faz da educação um poderoso auxiliar das novas ideias. Em Junho de 1559 funda a Academia de Genebra, à frente da qual coloca Th. de Bèze, e que se converte quase de imediato numa das mais brilhantes sedes da ciência na Europa. Ao mesmo tempo, ocupa-se da difusão exterior da sua doutrina; tem co-responsáveis em França, nos Países Baixos, Escócia, Grã-Bretanha e Polónia. Forma os seus discípulos, que por sua vez criam por todo o lado novas igrejas. A sua actividade como pastor e como professor é desmedida. Não tarda em sucumbir à enormidade da tarefa. Morre em 1564.
Como escritor, Calvino pode incluir-se entre os grandes do século xvi. Traduz pessoalmente do latim para francês a sua Institutio Christianae e sabe conservar, sem intemperanças, a construção ampla e metódica do período latino. A sua linguagem, um tanto austera, mas exacta, leva a clareza à teologia e é portador do movimento que procede de uma lógica poderosa.
O sistema teológico calvinista é a doutrina mais amplamente aceite e de maior influência no protestantismo. É uma doutrina fundamentalmente teocêntrica, e, ao mesmo tempo, uma reforma anticatólica e antiluterana, admite a Trindade, a encarnação do Filho de Deus numa Virgem, a dupla natureza de Cristo, a teoria augustiniana da graça, a predestinação e o pecado original. A igreja calvinista, cuja autoridade dimana directamente de Deus, tem como missão predicar a palavra divina, administrar os sacramentos e velar pela disciplina eclesiástica. Os escolhidos mais ilustres devem ensinar aos restantes as Sagradas Escrituras, texto fundamental e única fonte de fé. O ministério ordinário corresponde aos pastores, aos mestres, aos presbíteros ou anciãos e aos diáconos; não existe a categoria episcopal. Cada congregação local, governada por um consistório de pastores, é independente, se bem que possa juntar-se a outras congregações. Calvino aceita os sacramentos (entendidos como símbolos) do baptismo e da eucaristia e suprime o culto aos santos, às imagens, às relíquias e à cruz, considerado como idolatria. Não admite a confissão auricular, os votos, o celibato, a missa nem as indulgências, e nega a existência do purgatório. Ao longo da sua existência, o calvinismo experimenta numerosas modificações, e é essencialmente mantido pelas igrejas «reformada» e «presbiteriana».

segunda-feira, agosto 14, 2006

O Ataque ao Matrimônio

A apostasia do homem para com Deus trouxe consigo o ataque ao matrimônio. Adão abandonou a sua mulher, quando ele, como querendo que pôr distância entre ambos, disse:

“A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi”. (Gen. 3:12)

Com isto Adão rompia sua união conjugal. Era a primeira violação da fé conjugal. Era o primeiro divórcio. Rompe-se a relação com Deus: Adão e Eva se escondem de Deus. E depois, o mesmo ocorre com sua relação recíproca: Adão e Eva se envergonham um do outro por sua nudez. Então se cumpre aquele ditado latino: Corruptio optimi péssima: (a corrupção dos melhores é a pior que existe''). Desde aquele momento, muitas das impurezas ameaçam inundar a vida humana. Porém desde aquele instante, Deus também põe dificuldades em torno desta tormenta de impureza. Freqüentemente são dificuldades que em primeiro lugar devem fazer retroceder as mais graves excentricidades, mas que tenha a intenção de restaurar o alicerce primitivo em que o matrimônio somente assim, poderia andar bem. Nesta parte devemos considerar todos os tipos de informação que extraímos do Antigo Testamento, pois não só em si mesmo, se não na luz do cumprimento em Cristo, é que nos envolve a voltarmos “ao princípio”.

Por E. Beerman-de Roos, Dr. em Medicina
Dr. W.G. de Vries, Pastor Reformado

Tradução: Daniel L. Petersen Livro: La revolución sexual

domingo, agosto 13, 2006

Porque Jesus foi Batizado?

Mt. 3:13-15: “Então, veio Jesus da Galiléia ter com João junto do Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim? Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o permitiu.

O sentido original da palavra justiça era a falta de culpabilidade. Cristo nasceu de baixo da lei de Moisés e viveu da mesma lei toda a sua vida, e foi esta lei que causou sua morte como uma maldição. (Gl. 4:4, 3:13)

Segundo a lei de Moisés antes que um oficial da nação pudesse ser ungido, essa pessoa teria que ser lavada (Ex. 29:4; 40:12; Lv. 8:6). O batismo de Cristo pelas mãos de João procedeu ao ungir de Jesus. Ao terminar o batismo os céus se abriram e o Espírito Santo desceu sobre Cristo. Assim toda tipologia usada para ungir os profetas, sacerdotes e reis foi cumprida em Cristo também (veja Is. 61:1; Hb. 1:9).

Lc. 3:21.22: “E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batizado também Jesus, orando ele, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia: Tu és meu Filho amado; em ti me tenho comprazido.”

A afirmação, desde o céu, pois fim a vida de Jesus. Sendo ungido, a partir de agora pertenceu ao povo e ao mundo. O ungir foi aplicado por Deus e o título Cristo quer dizer ungido e seu equivalente em hebraico Messias indica que foi separado para uma função específica.

Nada pode se igualar a Cristo no batismo. Somente ele foi batizado para cumprir toda justiça. Só ele poderia receber esta identidade única pela lei de Moisés. Somente ele cumpriu cada processo da lei, cada processo da santidade de Deus foi comprovada, cada obra de obediência foi perfeita e cada obra completa. Somente Cristo recebeu este tipo de batismo e ungido.


Retirado do site: http://www.graciasoberana.com/

Tradução: Daniel L. Petersen

terça-feira, agosto 08, 2006

Todas as Coisas Realmente Cooperam para o Bem?


Romanos 8:28 em seu Contexto
de Daniel B. Wallace, Th.M, Ph.D.
Professor Adjunto de Estudos do Novo Testamento
Seminário Teológico de Dallas
wallace@bible.org


Você já deve ter ouvido umas mil vezes: “Não se preocupe, tudo vai dar certo!” Este é o eterno otimismo que nasce, não das provações da realidade, mas dos desejos da imaginação do sonho Americano, do faz-de-conta de Hollywood, ou da pura ingenuidade. Todos sabemos que não o é de todo verdade. Conhecemos casos de crianças que foram abatidas por um câncer ou por um motorista bêbado. Conhecemos casos de viciados em drogas que vieram de bons lares, de homens de família que perderam seus empregos, de soldados que retornaram do campo de batalha com um membro a menos. Estamos à par de incontáveis tragédias e sofrimentos desnecessários, mesmo assim repetimos para nossos filhos sem sequer pensar duas vezes: “Não se preocupe; tudo vai dar certo.”

Este sentimento não é novo; não começou na modernidade. Os antigos gregos e romanos diziam coisas semelhantes a seus filhos sabendo que suas palavras eram ocas. E, o apóstolo Paulo também disse algo deste tipo. A diferença é que Paulo não escreveu um cheque em branco otimista. Ele condicionou seu sentimento com importantes qualificadores, e ele definiu o que é “bem” como algo que está além do conforto e das riquezas.

Diz-se que no campo da imobiliária, há três princípios fundamentais que alguém deve seguir quando estiver comprando uma casa: o local, o local, e o local. Na interpretação das Escrituras, há também três princípios fundamentais: o contexto, o contexto, e o contexto. Romanos 8:28 não é uma exceção a esta regra. Se observarmos este texto em seu contexto, logo entenderemos sua intenção.

O contexto geral de Romanos 8:28 é um em que Paulo trata do viver pelo poder do Espírito em meio ao sofrimento e a dor. Paulo não era indiferente ao sofrimento. Suas várias experiências à ponto de morte, açoitamentos, prisões, e perseguições foram suficientes para erradicar qualquer ingenuidade que pudesse se ocultar em seu coração. No contexto imediato, dentro do próprio versículo, Paulo expressa os pré-requisitos para o que é “bom” (ou “bem”, NT) acontecer: “sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rom 8:28, BRP). Paulo não está dando esta promessa para todas as pessoas, mas apenas para aqueles “que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”

Mas o que isto significa? Aqueles que amam a Deus são, de acordo com este contexto, cristãos, porque eles são chamados de acordo com o propósito de Deus (note o v. 30: os “chamados” são também os “justificados,” que serão “glorificados”). Alguns entendem o particípio presente “que amam” (agapwsin) como uma condição temporal, como se ele quisesse dizer: “Enquanto você amar Deus, as coisas vão cooperar, mas quando você não estiver mais amando a Deus, as coisas não vão cooperar para o seu bem.” Esta interpretação, todavia, é improvável. Primeiro, o tempo desta construção grega é muito provavelmente um presente gnômico, assim indicando uma característica, em vez de uma condição temporal. Segundo, os versículos seguintes (vv. 29-30) falam da nossa conformidade a Cristo, nossa glorificação, como um resultado inevitável daqueles que amam a Deus. E isto não depende do quanto nós amamos a Deus, mas da obra que Cristo fez na cruz. Paulo conclui este capítulo explicitamente declarando que nada pode nos separar do amor de Deus (vv. 38-39). E, por inferência, isto incluiria até aqueles lapsos temporários do nosso amor pelo Salvador.

O que é, então, o “bem”? Isto está definido para nós, à princípio pelo menos, no versículo 29; um dos versículos esquecidos das Escrituras: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (BRP). O “bem” não é o nosso conforto, riqueza, ou saúde. É a conformidade a Cristo! Este “bem” é, portanto, totalmente definido no próximo versículo: “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” (BRP). Em fim, todas as coisas cooperam para trazer cada cristão à conformidade de Cristo, para trazer cada cristão à glória. Paulo está tão certo de que isto se realizará, que ele fala da nossa glorificação no tempo pretérito. Ele usa o que é chamado de “aoristo proléptico;” é um mecanismo da língua grega que o autor usa quando está querendo dizer algo que é tão bom como se já tivesse acontecido. Não apenas isto, mas ninguém está perdido entre predestinação e glorificação. Paulo não diz “alguns daqueles”, nem mesmo “a maioria daqueles”, quando descreve cada estágio da jornada da salvação. Da predestinação à glorificação, ele usa simplesmente “aqueles” (ouv ou toutouv); o pronome, que se repete, refere-se ao grupo inteiro que foi mencionado antes. Ninguém vai perder o trem na jornada da salvação.

Quando lemos Rom 8:28 em seu contexto, nós podemos dar uma resposta positiva à questão da dor e do sofrimento no mundo. Não vemos nada de bom na miséria e nos desastres deste mundo, mas este mundo não é toda a realidade que existe. Há um “até então...”. Há um lugar além do horizonte do qual nossos sentidos podem apreender, e é mais real e mais duradouro do que o que experimentamos nesta casca mortal. Deus está usando o presente, até mesmo um presente miserável, para nos conformar à imagem do seu Filho. Se definirmos o que é “bom” como apenas o que podemos ver nesta vida, então perdemos a mensagem deste texto. Pois, como Paulo havia dito antes no mesmo capítulo, “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rom 8:18, BRP). Os cristãos ocidentais, especialmente os cristãos americanos, tendem a deturpar o sentido de textos como Rom 8:28. Se nossas vidas forem confortáveis, se tivermos riquezas, boa saúde, então, está tudo bem. Mas, este não era o “bem” que Paulo tinha em mente, e este não é o alvo da vida cristã.


Copyright © 2005 Bible.org. Todos os direitos reservados. Reproduzido com a devida autorização. A versão em inglês deste artigo pode ser encontrado no site da Bible.org em: Do All Things Really Work Together for the Good? Romans 8:28 in its Context

[Daniel B. Wallace é autor de uma das mais conceituadas gramáticas da atualidade no grego bíblico “Greek Grammar Beyond the Basics — An Exegetical Syntax of the New Testament” (Gramática Grega Além do Básico – Uma Sintaxe Exegética do Novo Testamento) e tem vários estudos publicados no site da Bible.org.]